«(...) principiaram a jogar às prendas, pois é bom voltarmos a ser crianças, de tempos a tempos, e a melhor altura para isso é o Natal, quando Aquele que nasceu nesse dia era criança também. Mas esperem! Primeiro jogaram à cabra-cega, como é de tradição. E juro-lhes que não acredito que Topper não visse nada - devia ter, sim, os olhos postos nas botas. (...) O modo como ele perseguia aquela menina gorducha com o lenço de renda era um autêntico ultraje à credulidade humana. Deitava ao chão os atiçadores da lareira, tropeçava por cima das cadeiras, chocava com o piano, desaparecia no meio dos cortinados: lado para onde ela fosse ele seguia logo! E sabia sempre em que sítio devia procurar a menina gorducha. Não apanhava mais ninguém. Mesmo que esbarrassem propositadamente com ele - o que alguns fizeram - limitava-se a fingir que os perseguia, mas duma forma tal que era uma afronta à boa fé dos outros. E logo a seguir desviava-se em direcção da menina gorducha. (...) quando ele acabava por a apanhar, quando, a despeito dos ruge-ruges da saia de seda e das rápidas palpitações que ela fazia ao passar a correr por ele, Topper lá a conseguia encurralar num canto sem saída, a conduta dele tornava-se então absolutamente execrável. Fingia não a reconhecer, tornando-se para isso necessário tocar-lhe no penteado (...) eles desapareceram muito juntinhos atrás das cortinas, a fazerem confidências um ao outro.»
Charles Dickens, Cântico de Natal
brinquem, finjam, sonhem e encontrem-se.
Joyeux Noël