sábado, 26 de janeiro de 2013

lugarzinho


às vezes sinto-me muito pequenina dentro do mundo. faz frio nesse espaço imenso que nos empurra de um lugar para outro, como o vento empurra as folhas na sua viagem ao longo da calçada gasta pelos passos indiferentes. há demasiado lugar, e eu, às vezes, gosto do lugarzinhofico na minha chávena, só por uns momentos, para restabelecer o sentimento de grandeza. nem que seja a humana.





quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

planta do pé


Pousei a planta do pé
na ponta dos dedos da tua mão.
Estava quente
(contra o frio do meu pé)
Batem horas certas
no relógio de cuco que
trouxe da casa da minha avó.
São cinco horas
podiam ser nove,
mas são tempo.
Esse que urge entre
o toque dos nossos extremos.
Não sou como as outras pessoas,
os pés são o espelho da minha alma
(vem  amanhã)
não me compres sapatos
gosto de estar nua para ti
até à alma.



 

 

domingo, 13 de janeiro de 2013

a meio da noite


tenho uma lamparina de azeite a iluminar a espera. espero que acordes a meio da noite, quero contar- te o sonho que tive. enquanto procuro as melhores palavras para começar, observo-te: só peço a Deus que me castigue, se me atrever a perturbar a tranquilidade do teu semblante. e neste impasse divino, já esqueci o sonho. durmo com um anjo. espreito pela janela, para conferir se a noite ainda faz de cenário a este momento. apago a lamparina e mando embora a espera, que se perde numa linha de fumo. não faço barulho, não me mexo, vejo-te até no escuro.

durmo com um anjo.
 

sábado, 12 de janeiro de 2013

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

As Casas


«(…) O ritmo de qualquer universo está configurado numa casa. Ela está exposta aos elementos, ao sol, à chuva, ao vento, a todas as estações; ao estio mais abrasador e ao inverno mais inclemente. Ao transpor a porta da casa, (…) sentimos os cheiros habituais, reconhecemos algo como uma placenta de onde provimos e nos sentimos protegidos e de novo ligados num lugar inexpugnável. Podemos aliviar o rosto da última máscara.»
Inês Lourenço, Ephemeras

a casa com paredes é a do voltar sempre, o lugar das certezas do eu. mas a casa é também quando descobrimos a fechadura que corresponde à nossa chave. trancamos a porta para sermos a  múltidão em dois corpos.