sábado, 25 de fevereiro de 2012

les mots du coeur


ao fundo da estante está aquele livro proibido. o livro que tem páginas marcadas com dobras ao canto das folhas. foram os dedos do tempo que as dobraram, para lembrar o dia em que abandonei a esperança naquela história. são páginas que guardam a força dos pontos finais, páginas que não deixam passar às seguintes, páginas que gritam a rigidez do papel e bloqueiam a entrada para a ilusão bonita que nelas se escreveu. ao fundo da estante está aquele livro que olho com desejo de abrir, rasgar as páginas marcadas pelos dedos do tempo, reescrever a história e colocar vírgulas e reticências, fazendo respirar as frases que me conduzem a ti. o caminho é longo, a caminhada é regular, o destino é incerto. palavra a palavra, assim dou os passos para...

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

tudo no sítio



os lençóis cheiram ao desuso dos amantes, àquele impertinente aroma do detergente da lavagem. a almofada está imaculada, sem a regular marca de batom vermelho. o chão sem uma única peça de interior caída sobre ele. a estante sem um livro ausente. o frasco de perfume com a precisa quantidade de líquido que testemunha o abandono. o incenso inteiro, ignorante da sua utilidade. o cigarro na caixa, determinado a desistir. o chapéu arrumado com aprumo, tal como as coisas que não devem sair do lugar.



arrumar-me na gaveta;

é isso.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Bluebird



para onde voou o pássaro azul?

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

nada, apenas olho pela janela



decidi que queria festejar a tua partida. comprei vinho, aquele queijo francês vestido de branco (que dá pelo nome Brie), os morangos caros fora da época e o gelado de nozes que faz doer os dentes. deixo tocar um piano solitário qualquer, aprisionado num CD antigo qualquer, e olho pela janela enquanto dou pequenos goles no copo de vinho e trinco o queijo já quase derretido nos dedos. apanho um morango como se apanhasse uma goma daquelas difíceis de desfazer na boca, e demoro-o na língua, até perceber quando deixa de ser doce e começa a ficar ácido. enterro um dedo no gelado e faço uma pinta no nariz. porquê que a festa está a durar tanto tempo? vão-se embora, tenho de ir dormir. amanhã acordo cedo. silêncio. há silêncio aqui. outra vez. sempre.



e eu continuo a olhar pela janela.

de repente, deixei de ter esta idade;
pintei-me da esperança infantil.