sexta-feira, 23 de abril de 2010

baloiço


sentada no baloiço, permanece num estado letárgico cujo chamamento da realidade não derruba. umas mãos tocam alternadamente as suas costas para impulsionar o movimento pendular em que o seu corpo, suspenso, se deixa levar. o vento bate na cara, levanta as saias e, no entanto, esse vento atrevido parece ser o único toque que lhe agrada. entra pelos interstícios da pele e, passando a fronteira física, parece tocar-lhe a alma.
o baloiço continua a baloiçar, o vento a circular. nisto surge a vertigem de uma iminente queda. a queda não se dá, porque uns braços surgem na urgência do amparo deste corpo adormecido na dor.
olhando o baloiço vazio, vê-se a aura que lá permanece. então ela volta e ocupa o seu lugar. ela volta e quer de novo baloiçar, porque o vento que lhe chega à alma é melhor conselheiro que as palavras de consolo que a rodeiam. o silêncio daquele momento envolve-a num abraço consolador.
o baloiço parou. os seus cabelos, rasgados pelo vento, formam um penteado quase poético que combina com o seu estado de alma ascético.

ela gosta daquele baloiço, simplesmente porque não toca com os pés no chão.
Fotografia de Julia Margaret Cameron

domingo, 18 de abril de 2010

6 things I love about you and 4 things I hate


I love the way you talk to me,
and the way you cut your hair.
I love the way you drive my heart,
I love it when you stare.
I love your black leather jacket
and the way you read my mind.
I love you so much it makes me sick,
it even makes me rhyme.
I hate the way you’re always right,
I hate it when you shut up.
I love it when you make me laugh,
but I hate when you make me cry.
I hate it when you’re not around,
and the fact that you didn’t call.
But mostly I hate the way I don’t hate you,
not even close

not even a little bit

not even at all.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

amanhã


a noite deixa-me mais frágil, mais vulnerável à consciência da minha espera. o dia acabou e nada trouxe com ele. não tenho notícias tuas... como estás? por onde andas? pensas em mim? dá-me notícias. é natural que chore, todos me dizem, é natural que sinta, é incontrolável, é natural que sofra, é inevitável. o amanhã surge como a coisa mais desejada e, ao mesmo tempo, como a coisa mais temida. o desejo confina-se à esperança, o medo à perda. o amanhã é o primeiro dia da minha vida, assim chamado porque pode ser a vida ou a morte. já me sinto a tremer pelo que virá, já me sinto ansiosa pela pressa da tua presença. a espera tortura mas acalma. eu estou à espera, e estarei sempre, mesmo que tentes cessar essa espera amanhã.


amanhã, amanhã, amanhã... haverá sempre um amanhã, porque vivo a aguardá-lo.

sexta-feira, 9 de abril de 2010


«O que conta não é a manifestação do desejo, da tentativa amorosa. O que conta é o inferno da história única. Nada a substitui, nem uma segunda história. Nem a mentira. Nada. Quanto mais a provocamos, mais ela foge. Amar é amar alguém. Não há um múltiplo da vida que possa ser vivido. Todas as primeiras histórias de amor se quebram e depois é essa história que transportamos para as outras histórias. Quando se viveu um amor com alguém, fica-se marcado para sempre e depois transporta-se essa história de pessoa a pessoa. Nunca nos separamos dele. Não podemos evitar a unicidade, a fidelidade, como se fôssemos, só nós, o nosso próprio cosmo. Amar toda a gente, como proclamam algumas pessoas e os cristãos, é embuste. Essas coisas não passam de mentiras».


Marguerite Duras