sexta-feira, 28 de outubro de 2011

o que é que escolho: ser ou ser?



a linha entre o que somos e o que devemos ser é muito ténue. umas vezes somos como achamos que devemos ser, como alguém nos disse para ser, e nesse ditado perdemos a referência do nosso verbo. outras, seguros no nosso eixo ontológico, temos a audácia de ser, simplesmente ser, de respirar pela nossa boca, sem atentar ao cumprimento do código da estrada das aparências, e aí somos multados pela nossa péssima condução, que coloca em perigo os outros condutores. todos procuramos a nossa estrada, recta, no deserto, OU, o condutor que não nos apite e aprenda connosco a arte da má condução (e que, respirando pela sua boca, partilhe também um pouco do seu ar).
ambas utopias.

estamos destinados a viver nas trincheiras entre o que somos e o que é suposto sermos. uma guerra sem tréguas.


talvez se vendarmos os olhos nos divertamos mais neste jogo.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

almofada




tenho a almofada encharcada dos sonhos que verto, sem querer, sobre ela. sobre ela não, para dentro dela, da sua textura mole que os absorve como uma esponja que lava desinteressadamente a loiça e contacta com a sujidade dos pratos. os meus sonhos são também eles água suja, água que já lavou outros pratos. água que precisa ser renovada, para que não fique retida na almofada e, pela sua pureza possa voltar ao céu e transformar-se na chuva que tudo abençoa.




vou trocar por agora a almofada, e carregar outra de água.


pode ser que esta água venha mais cristalina.