quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

receita de ano novo

The Apartment (1960), Billy Wilder
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Estrela de Natal


Na estação fria, num lugar onde soe mais a quentura
que a friagem, e mais a planura que a altura,
nasceu para salvar o mundo um Menino na caverna;
o vento soprava como só no deserto quando inverna.

Para Ele, tudo parecia enorme: o seio da Mãe, o vapor
amarelo nas ventas do boi, os Reis Magos – Gaspar, Melchior,
Baltazar – mais os presentes, arrastando-se desde a porta, à espera.
Ele era apenas um ponto. E um ponto era também a estrela.

Atentamente, sem pestanejar, por entre raros fiapos de nuvens,
posto no Menino nas palhinhas deitado, de muito além,
do fundo das profundezas do Universo, o olhar
da estrela estava posto na caverna. E era o do Pai aquele olhar.

(24 de Dezembro de 1987)
Paisagem com inundação, de Iosif Brodskii
(Tradução de Carlos Leite)


A Matter of Life and Death (1946), Michael Powell e Emeric Pressburger

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

janelas

gosto de olhar as janelas dos prédios ao fim da tarde, no caminho para casa, e assistir à cerimónia das primeiras luzes a surgir no interior das casas. a treva ainda não desceu, e esta indecisão entre o dia e a noite dá-me a tranquilidade do ainda e a violência do . penso nas Noites Brancas de Dostoievski e de Visconti, como se o desplante de suspender a visão sobre as janelas dos outros tivesse qualquer coisa de romântico. ando a ler Sherlock Holmes, mas também não é o espírito detetivesco que me organiza os impulsos. queria apenas ficar assim, a olhar as janelas iluminadas dos prédios, para lá de qualquer literatura.


Le notti bianche (1957), Luchino Visconti

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

sábado, 15 de agosto de 2015

cinema II

«... ia-me invadindo uma lenta indolência que apagava o tempo e a ordem dos dias. Levantava-me tarde, e ao acordar ouvia a máquina de escrever, e algumas nem sequer saía para seguir Walter. Ficava a ver filmes que já quase sabia de cor, deslocava-me para uma das poltronas do fundo quando se apagavam as luzes e adormecia ouvindo as marchas militares dos jornais de actualidades, deixando para mais tarde a obrigação de actuar e de fazer caso de Valdivia, que também nada fazia, que certos dias passava horas sentado diante de Rebeca Osorio, vendo-a escrever. Era como se também para ele o mundo se resumisse aos limites fechados do Universal Cinema. (...)
Valdivia, como Walter, tinha tido sempre o poder dos actos. O meu dever era olhar sem que soubessem que olhava. Uma tarde vi talvez o que não devia e soube por que motivo Valdivia parecia tão tomado como eu próprio pela inércia do adiamento. (...) Walter não estava. Fui procurá-lo pelas ruas desertas de Madrid.
Eu caminhava atrás dele pela cidade mas não tinha a sensação de intempérie: em toda a parte, o ar era tão cálido e tão rarefeito como no interior do Universal Cinema, e a luz igualmente cinzenta. Cada um de nós era a sombra multiplicada dos outros e procurávamo-nos e fugíamos tão solitariamente por Madrid como quando o último espectador abandonava a sala e os porteiros se retiravam e não ficava mais ninguém além de nós naquele edifício, nos corredores e vestíbulos decorados com cartazes de filmes e retratos de atrizes pintados à mão.»

Beltenebros, Antonio Munõz Molina



(Goodbye, Dragon Inn, Tsai Ming-Liang)

terça-feira, 11 de agosto de 2015

cinema


«Com o livro na mão, repeti os passos dele, encontrei o cinema aonde ele ia procurar a rapariga, comprei um bilhete para a última sessão. Não havia quase ninguém na sala e pude ocupar sem dificuldade a cadeira indicada no romance: no canto do fundo, à esquerda, junto da luz vermelha da saída de emergência. O cinema tinha uma vasta decrepitude de veludos e ouros falsos maltratados por um abandono talvez anterior aos anos da guerra. A luz dos globos amarelos que pendiam do tecto tingiam o ar com um resplendor toldado, como de lamparinas de azeite. O protagonista do romance só permanecia meia hora no cinema, devorado, ainda me lembrava das palavras exactas, por uma impaciência febril. Se ao fim de meia hora ninguém se sentasse ao meu lado, deveria ir-me embora e voltar no dia seguinte. (...) Para me distrair nos últimos minutos de uma espera que já suspeitava ser inútil, olhei distraidamente para a tela. Surpreendeu-me a sonora voz espanhola de Clark Gable. Alguém passou pelo cortinado vermelho da saída de emergência e acercou-se de mim, uma mulher de blusa branca que trazia um livro na mão. Não me voltei para olhá-la quando se sentou ao meu lado.
- Gostou do romance? - perguntou, tocando-me na mão.
- Ainda não acabei.
- Melhor assim. Não acabe.»

Beltenebros, Antonio Muñoz Molina


                                                                                                                                              [Tom Waits]


quarta-feira, 15 de julho de 2015

sexta-feira, 5 de junho de 2015

"Que coisa são as nuvens?"

É a primeira vez que publico no blog uma entrevista conduzida por mim (sem que, no caso, houvesse necessidade de perguntas). Sempre o tomei como um espaço de fragmentos concentrados de palavra, anotações do inexprimível, fixações de vertigens, como diz Rimbaud na epígrafe deste espaço. Hoje faz sentido publicar, precisamente aqui, uma breve conversa com José Tolentino Mendonça, sobre Pier Paolo Pasolini e dois filmes – Che cosa sono le nuvole?/O Que São as Nuvens? e Uccellacci e uccellini/Passarinhos e Passarões –, exibidos na Cinemateca, com sua apresentação, no passado dia 1 de junho, Dia da Criança. Talvez seja só uma bela coincidência. “Que coisa são as nuvens” é o título do novo livro de crónicas de Tolentino Mendonça, aquelas que publica no Expresso, e é também o mote dos textos que procuram tocar matérias mais próximas do céu.


«...a pouco e pouco foi desaparecendo toda a massa da nuvem, 
fiada diante dos meus olhos por uma roca em mão invisível.» 
Johann Wolfgang Goethe, O Jogo das Nuvens




O que é que aquele momento de admiração [no filme Che cosa sono le nuvole?], em que as marionetas olham para o céu, descobrem as nuvens, determina enquanto linha de princípio para as suas crónicas?

Che cosa sono le nuvole?
Um dos aspetos que, para mim, são mais representativos da figura muito rica de Pier Paolo Pasolini, é de facto ele assumir-se como uma espécie de mestre, de hermenêuta da própria realidade que constrói com o seu cinema, a sua poesia, os seus escritos, as suas crónicas, as suas intervenções públicas... Ele constrói uma espécie de maiêutica socrática, a fim de ajudar os leitores, os espectadores, aqueles que o escutam, que o acompanham, a fazer um determinado percurso, profundamente envolvente, no sentido da descoberta: a descoberta do enigma do mundo. Mas essa descoberta é sempre feita – mesmo quando envolve uma ironia, uma desconstrução ou uma crueldade – com a finalidade do maravilhamento. Descobrir a indizível beleza do criado, descobrir essa apaixonada, e jamais expressa, beleza que é existirmos à face da terra. E isso, que é uma coisa sem preço, Pasolini insistiu muito que fosse uma marca persistente de todo o seu trabalho. Eu tive a sorte de contactar com a obra de Pasolini muito cedo. Na primeira vez que tive uma estadia em Roma, a fazer os meus primeiros estudos, surgiu a possibilidade de ver uma integral do seu cinema, e começar uma leitura de grande parte da sua obra, que acabou por ser extraordinariamente formativa, para mim e para a minha forma de escrever e de entender o que deve ser o papel de um escritor e de um poeta que escreve num jornal, também. E percebi com ele que o trabalho, no fundo, é sempre partir de uma imagem, uma imagem que está o mais próxima de nós, e levar essa imagem até ao mais longe que conseguirmos. É isso que ele faz no filme [Che cosa sono le nuvole?], começando com a representação de uma peça de Shakespeare, Otelo, que é interrompida, e depois, levando essa interrupção, que é uma reflexão sobre o destino do homem, até ao mais alto que ele pode – na exclamação final do Totó: “Ah magnífica, indizível, arrepiante beleza do criado.”

Uccellacci e uccellini, esse filme-parábola, é também uma observação assombrosa da realidade. Como se apresenta aqui a dimensão da proximidade do “indizível”?

Uccellacci e uccellini
Uccellacci e uccellini, cujo título em português é Passarinhos e Passarões, é uma grande parábola. Pasolini dizia que este era, de todos os seus filmes, aquele de que mais gostava, e isso é muito interessante, porque era o filme mais pobre e mais belo que ele tinha feito. É a primeira vez que trabalha com o Totó – e queria muito fazê-lo – e é também o primeiro filme em que o Ninetto Davoli tem um papel de protagonista. Ele já tinha entrado, em 1964, no Evangelho Segundo São Mateus, fazendo um pequeno papel, e aqui entra num dos papéis principais, dois anos depois (1966). É um filme fantástico em duas dimensões. Por um lado, é um filme que diz muito da posição desse intelectual e desse poeta extraordinário que foi Pasolini, ou seja,  alguém que soube ler a nossa modernidade, esta aparência de progresso, de liberalismo, de capitalismo... como uma nova forma de fascismo. E isso, no seu tempo, foi muito mal compreendido, Pasolini foi muito atacado, considerado niilista, dizendo-se que era uma coisa exagerada ele comparar estes tempos de democracia liberal aos tempos negros e opressivos do fascismo. Mas tudo o que ele dizia e pensava, sobre o modo como hoje somos levados a viver, obrigados a viver, não estava longe de uma verdade. Ele fazía-nos pensar. Pode parecer exagerado dizer que nós vivemos de novo no fascismo, no entanto, esta é uma provocação que nos obriga a pensar, e esse olhar está muito presente nesta fábula/parábola, ou conjunto de parábolas, que ele constrói no Passarinhos e Passarões. Depois, há outro lado, a maiêutica persistente dos seus filmes, que me toca particularmente. Não há obra nenhuma sua, quer seja um poema, uma crónica de jornal, um filme, em que ele não tenha pontos de fuga, observatórios para um nível mais profundo da realidade, e, nesse sentido, Pasolini mostra como um poeta é, ao mesmo tempo, um sismógrafo, que vai ao fundo revelar as tensões e os movimentos quase imperceptíveis da própria vida, e um astrónomo, um contemplativo, alguém que vive com essa dimensão de um olhar macro sobre a realidade, permitindo que ela respire de uma outra forma. Também aí, Uccellacci e uccellini é um filme extraordinário... O diálogo com a prostituta, e vários outros momentos ao longo do filme, são fragmentos do assombro que, na verdade, redimem a própria vida. 

O que é que lhe fascina em Pasolini, na sua multiplicidade criativa?

Pasolini deixou uma obra interminada e interminável. E é interessante pensar como este homem que acabou por viver tão pouco, deixou uma obra tão vasta. Ele era uma máquina de pensar o mundo, uma grande máquina hermenêutica, e é apaixonante descobrir isso. A mim fascina-me muito, na personalidade de Pasolini como criador, o facto de ele ser tantas coisas – cineasta, escritor, jornalista, poeta, pensador da realidade italiana e ocidental –, parecer que são coisas muito diferentes, e de repente percebermos que é uma coisa só. A poesia dele é só uma, e é essa que se expressa nos filmes, nas posições públicas, no seu silêncio, no corpo, e finalmente, nos seus poemas. Isto é muito forte, porque mostra a rara unidade vital, de alguém que procurou abraçar o mundo de formas diferentes e de um único modo.

E “que coisa são as nuvens” para si?

(Silêncio) As nuvens... são aquilo que é maior do que nós e nos acompanha.





[Excertos desta entrevista foram originalmente publicados no DN]

domingo, 17 de maio de 2015

portraits, dreams and bad dreams


«Where I come from nobody knows and where I am going everything goes. The wind blows, the sea flows, nobody knows. And where I am going, nobody knows.»
[Portrait of Jennie (1948), William Dieterle]










Dragonwick (1946), Joseph L. Mankiewicz
Rebecca (1940), Alfred Hitchcock
The Woman in the Window (1944), Fritz Lang
Portrait of Jennie (1948), William Dieterle
Laura (1944), Otto Preminger
Vertigo (1958), Alfred Hitchcock

sábado, 25 de abril de 2015

dia de (e da) Liberdade

entre Alexandre Nevsky, na composição musical de Sergei Prokofiev, uma conversa acerca de música e cinema, um tributo a Nino Rota, pelo Quinteto de Richard Galliano, e leituras picadas sobre Orson Welles, este 25 de abril foi de uma liberdade sem limites: para os ouvidos, para o espírito, para a mente. a certa altura, no andamento das páginas do livro de Orson Welles, num capítulo que fixa textos seus, lê-se «Não há arte domesticada» – e tudo faz sentido de repente. experimentei, de modo particular, essa liberdade quando o Quinteto de Richard Galliano se configurou numa espécie humana de Aristogatos, interpretando Nino Rota como quem sobe aos telhados para dar ao luar um sentido renovado. o clarinetista não conseguia conter os seus tiques de pernas (com um gesto idêntico ao do cão a “sujar” as rodas dos carros), dizendo nesses tiques, implicitamente, “sou tão feliz por tocar clarinete”... e todos os outros consumavam a alegria em bloco, que é, aliás, característica própria da música de Rota. mas também houve melancolia, porque os telhados hoje estão molhados e não há luar. estes Aristogatos, com toda a sua desfaçatez vadia, trouxeram a lua para dentro de uma sala, e o mar para o interior de um acordeão.



quinta-feira, 2 de abril de 2015

Manoel (1908-2015)

disse Michel Piccoli, em 2007: «[Manoel de Oliveira] é um grande farsante. E tem uma elegância, uma sabedoria de viver que é muito secreta. Ele nunca fala dele próprio. Gosta de contar histórias.» lendo isto, nada me ocorre de mais elegante, secreto e farsante do que o vermelho desta(s) rosa(s) do Vale Abraão. que fantasia tão sagrada e profana nesta cor. que morte tão imaginária, a de Manoel de Oliveira, entre o profano dia das mentiras e a sagrada Sexta-feira da Paixão de Cristo. caminhará ele agora nesse Mistério, como fazia com José Régio, descodificando plano a plano A Regra do Jogo de Renoir? dá-nos um sorriso, conjecturar.




quinta-feira, 19 de março de 2015

Encontro


Meu pai perdi no tempo e ganho em sonho.
Se a noite me atribui poder de fuga,
sinto logo meu pai e nele ponho
o olhar, lendo-lhe a face, ruga a ruga.

Está morto, que importa? Inda madrugada
e seu rosto, nem triste nem risonho,
é o rosto, antigo, o mesmo. E não enxuga
suor algum, na calma de meu sonho.

Ó meu pai arquiteto e fazendeiro!
Faz casas de silêncio, e suas roças
de cinza estão maduras, orvalhadas

por um rio que corre o tempo inteiro,
e corre além do tempo, enquanto as nossas
murcham num sopro fontes represadas.


(in Claro Enigma, Carlos Drummond de Andrade)



sonho sempre que ele vive, desde que mudou de morada, num vale imensamente verde.


















How Green Was My Valey (1941), John Ford

domingo, 15 de março de 2015

home

(The Birth of a Nation, D. W. Griffith)



Mid pleasures and palaces though we may roam,
Be it ever so humble, there's no place like home;
A charm from the skies seems to hallow us there,
Which seek thro' the world, is ne'er met elsewhere.
Home! Home!
Sweet, sweet home!
There's no place like home
There's no place like home!


letra: John Howard Payne (1823)
música: Henry Bishop


sábado, 7 de março de 2015

o som dos Maltesers a derreter no palato ou a ciência de um prazer


aconchego um Malteser
entre o pico da concavidade do céu
da boca (perdão – do céu palatino)
e da língua mole.
para não acelerar o processo
de erosão enzimática,
suspendo o movimento
do maxilar.
pausa.
um crepúsculo de
chocolate derrete como
a cera das velas fundidas
numa superfície plana, converte-se num
manto de sabor, e desse quase
nada procede o ruído
da morte esfumada da bolacha
de dentro – sulcada que
nem um queijo suíço –,
comovida
pelo regozijo desta
boca triste (será o ruído
do pavio a dissipar-se?).
quero mais um Malteser
e outro
e outro...
o pacote inteiro.
porque, já dizia Márai,
as velas ardem até ao fim.
e eu não sei escrever
poesia. por isso, escuto o som
dos Maltesers a derreter
no palato.
















The Golden Rush (1925), Charles Chaplin

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

"I'm Nobody! Who are You?"


I'm nobody! Who are you?
Are you nobody, too?
Then there's a pair of us -don't tell!
They'd banish us, you know.

How dreary to be somebody!
How public, like a frog
To tell your name the livelong day
To an admiring bog!



Emily Dickinson




La petite marchande d'allumettes (1928), J. Renoir

domingo, 1 de fevereiro de 2015

stuff


é quando estou de partida, que percebo a minha identidade a dividir-se, como se deixasse as mãos agarradas aos objectos dos últimos dias, ou trouxesse no olfacto a naftalina do guarda-roupa onde ainda existem os vestidos com rendinhas e laços. fico desnorteada na estrada que se vislumbra, a estrada que me levará de volta ao lugar onde os objectos/coisas ainda não são memorabilia, mas instrumentos de construção pessoal. a casa, esse imóvel teórico, é outra história. agora só penso nos objectos - sinto que sem eles não consigo ser sujeito.


[e não sou materialista.] 


(Fanny e Alexander, Ingmar Bergman)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

drifting clouds


“I can wash dishes.”

e posso também fazer a comida.


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

self-portrait


                                                                         Shadow of a Doubt (1943), A. Hitchcock


Tu és a [tua] própria tarefa. 
(«Aforismos», Kafka)








quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

l'avenir

«Pour ce qui est de l'avenir, il ne s'agit pas de le prévoir mais de le rendre possible.»
Antoine de Saint-Exupéry






Les amants du Pont Neuf, Leos Carax (1991)