domingo, 23 de maio de 2010

e o Pretérito Mais-que-Perfeito?


o pretérito perfeito tem a mania que é o protagonista da minha história. às vezes dou-lhe as luzes da ribalta, ele sente-se o sublime actor que recebe a sua homenagem. patife! (de facto, acho que o merece, mas não me apraz pactuar com isso).
o presente é um miserável que se arrasta à procura de um papel, nem que seja o de menina de recados, encarregue de levar ao futuro a carta que lhe propõe uma presença em cena.
com efeito, o futuro é o figurante que, sendo um inútil voluntário, dá uma certa "cor" ao cenário que é tão pobre como o actor que ciranda no palco, assobiando à falta de sentido que encontra em si mesmo.
não sei qual dos três o melhor, mas concerteza o mais nítido é o primeiro. é o incontestável protagonista.
não sei quem é o encenador desta maldita peça, mas por favor acuse-se e troque os papéis... ou terá de ajustar contas com a "possibilidade de um Deus" que me protege (?)


agora que acabei a minha explanação, digo, à boa maneira brechtiana, que tudo o que escrevi foi pura crítica a todos aqueles que simplesmente não esquecem (idiotas). o leitor que não se iluda, eu não sou verdadeira protagonista de mim mesma.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

est-ce ainsi que les hommes vivent


Tu e eu não fizemos de nós mesmos.
Haverá tempo para tudo dizias
e ao longo deste ano (para dar uma noção de duração),
fizemos de didascálias numa obra sem personagens.
Fomos o verão em forma de melão num quadro de feira,
os enfeites de carnaval no funeral do papa,
a cadeira eléctrica do pai natal,
a pedinte à entrada do metro,
a sorte com o seu penteado retro.

Como todos os negócios com direito a um espaço comercial,
o nosso afecto ocupava o tempo de antena da primavera,
os bancos de cinema King, o lugar estratégico das estrelas,
o vazio da web e o mal estar das massas.
O nosso amor fazia concorrência aos gelados
e outros reguladores naturais do metabolismo.
Como a noite era branca e prudente.
Como Paris ficou tão longe, de repente.
Rima e soa barato.
Mas a literatura tem destas coisas.
Disse-o Bataille no livro sobre «a literatura e o mal».
Garanto e cito, como sempre, do original.



Golgona Anghel