As portadas das janelas batiam furiosas. O vento, lá fora, assobiava que nem um velho gaiteiro, uma música que convidava as envergonhadas areias da praia a dançar, num ritmo e compasso constantes, formando sensuais corpos em espiral que se agitavam em consonância harmoniosa e inebriante. Até o sol, cansado de brilhar, tirou uma folga para se aconchegar na sua vaporosa poltrona branca celestial, a fim de assistir ao fenómeno digno de se ver.
Tudo indicava que o dia era bom para ficar em casa. Foi o que fiz.
Contudo, atraída pelo barulho da festa que se avizinhava ali mesmo, debaixo da minha janela, debrucei-me sobre o parapeito frio e rugoso, e senti toda aquela atmosfera convulsiva e sublimada entrar-me nos interstícios e chegar ao coração. Fiquei assim, pura e simplesmente a presenciar o espectáculo, a apreender a sua essência…
O mar, cor de cinza, gritava roucamente a sua dor, levantado enormíssimas lágrimas de revolta que chocavam contra os inócuos rochedos, num combate implacável, mas desigual; depois, amainava e transformava a sua cólera em restos de espuma nívea e salgada que desaparecia na fome da areia molhada.
No firmamento, as nuvens vestiam-se de negro e juntavam-se a esta luta, lançando raios de luz que iluminavam todos os passos errantes, envolvendo toda a terra num bater de tambor que a fazia estremecer e confundir-se com as trevas.
Assim se detiveram, durante algum tempo, os elementos da Natureza, mostrando o seu poder e desafiando os próprios Deuses, Zeus e Poseídon.
Por fim, a noite chegou, sem grande contraste de luminosidade face ao dia, mas carregada de tímidas estrelinhas que apagavam as suas luzes em reverência ao duelo de titãs.
Adormecida nesta guerra natural, despertei para o meu próprio estado: sentia o meu corpo tremer, sem saber se de perturbação ou de frio, e tinha o rosto encharcado pelas rajadas de vento e chuva que me açoitavam. Fechei a janela e pus-me a pensar. A pensar na razão daquele alvoroço, deixando de parte as explicações científicas, que me pareciam sobrepujadas por outras justificações do domínio metafísico, que tantas vezes nos parece incompreensível. Porém, nesse dia, o metafísico não poderia ter sido mais inteligível ao meu entendimento humano, trazendo em si a notícia mais amarga que poderia ser processada nas minhas ideias. Nesse dia, um Soldado da Paz havia partido em busca da fonte da eternidade…
Levada na corrente da tristeza mais profunda que conheci, dei permissão aos meus olhos de transbordarem a tempestade que me tomava, e as suas águas fortes elucidaram-me a vista que antes, refém do coração, tinha observado a ilusão, e que agora apenas deixava verter uma lágrima que cessava nos lábios com uma só palavra: Pai.
Tudo indicava que o dia era bom para ficar em casa. Foi o que fiz.
Contudo, atraída pelo barulho da festa que se avizinhava ali mesmo, debaixo da minha janela, debrucei-me sobre o parapeito frio e rugoso, e senti toda aquela atmosfera convulsiva e sublimada entrar-me nos interstícios e chegar ao coração. Fiquei assim, pura e simplesmente a presenciar o espectáculo, a apreender a sua essência…
O mar, cor de cinza, gritava roucamente a sua dor, levantado enormíssimas lágrimas de revolta que chocavam contra os inócuos rochedos, num combate implacável, mas desigual; depois, amainava e transformava a sua cólera em restos de espuma nívea e salgada que desaparecia na fome da areia molhada.
No firmamento, as nuvens vestiam-se de negro e juntavam-se a esta luta, lançando raios de luz que iluminavam todos os passos errantes, envolvendo toda a terra num bater de tambor que a fazia estremecer e confundir-se com as trevas.
Assim se detiveram, durante algum tempo, os elementos da Natureza, mostrando o seu poder e desafiando os próprios Deuses, Zeus e Poseídon.
Por fim, a noite chegou, sem grande contraste de luminosidade face ao dia, mas carregada de tímidas estrelinhas que apagavam as suas luzes em reverência ao duelo de titãs.
Adormecida nesta guerra natural, despertei para o meu próprio estado: sentia o meu corpo tremer, sem saber se de perturbação ou de frio, e tinha o rosto encharcado pelas rajadas de vento e chuva que me açoitavam. Fechei a janela e pus-me a pensar. A pensar na razão daquele alvoroço, deixando de parte as explicações científicas, que me pareciam sobrepujadas por outras justificações do domínio metafísico, que tantas vezes nos parece incompreensível. Porém, nesse dia, o metafísico não poderia ter sido mais inteligível ao meu entendimento humano, trazendo em si a notícia mais amarga que poderia ser processada nas minhas ideias. Nesse dia, um Soldado da Paz havia partido em busca da fonte da eternidade…
Levada na corrente da tristeza mais profunda que conheci, dei permissão aos meus olhos de transbordarem a tempestade que me tomava, e as suas águas fortes elucidaram-me a vista que antes, refém do coração, tinha observado a ilusão, e que agora apenas deixava verter uma lágrima que cessava nos lábios com uma só palavra: Pai.
escrevi este texto aos 16 anos, para um concurso literário que me valeu o primeiro lugar. não sei se terá sido realmente o melhor texto, ou se o júri já conhecia uma certa forma de escrever, de uma certa aluna. mas gostei de saber que quem o leu, tenha sentido, como eu, a turbulência nos olhos.tinha 16 anos, e tive força e engenho para escrever isto. hoje não teria tanta impulsividade para descrever com semelhante pormenor... o que descrevi.
escrevia assim. e afinal, se for a ver bem, ainda escrevo. mas falta-me a audácia que tive aqui. no momento da escrita.
este texto foi um trabalho de parto.