há um pássaro dentro de mim. às vezes sou o céu, às vezes sou a árvore, outras o ninho ou
então a gaiola. ser-se imenso, ser-se suporte, ser-se conforto ou ser-se prisão
são quatro estados. se sou o céu, tudo é espaço
que cede espaço a mais espaço, tudo é liberdade; sou respiração colorida. voa voa, que
as tuas asas não esgotem a vontade de azul… se sou a árvore, procuro oferecer o
ramo mais seguro, o ponto onde a vista é mais bonita, onde se pode fazer um
ninho; sou madeira generosa. vem, ocupa este braço que te dou, constrói aqui a tua casa. se sou o
ninho, quero aconchegar as asas fatigadas do voo, quero ser a cama aberta que
se consagra à missão plena do descanso; sou as mãos côncavas de uma criança. quando chegares, só tens de te deixar
levar no embalo do teu próprio cansaço. quantos céus voaste hoje? se sou gaiola…
não sou digna de ter um pássaro dentro de mim. não posso prender o movimento poético
de umas asas. não posso.
BlueBird, quero que voes sempre tomando-me como teu
infinito, que te apoies no ramo que te dá a vista mais privilegiada e que te renoves
sempre do cansaço do voo no ninho que te fiz. BlueBird, fica, sem sentires as
grades de uma gaiola. onde estás?