segunda-feira, 29 de setembro de 2014

aniversário


imagino-o com a idade que faria hoje. como seria? recordo a vontade que tantas vezes tive de voar, para ir ter com ele, através de cada desenho guardado nas folhas deste Livro. na altura, ainda não sabia que bastavam balões. agora talvez já seja tarde, talvez tenha peso a mais para isso. e daí não sei, não cresci muito, e isso porque também não desejei assim tanto ser grande




(Le ballon rouge, Albert Lamorisse)

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Time fades away




(L'année dernière à Marienbad, Alain Resnais)

terça-feira, 16 de setembro de 2014

odiar um filme

desde o Terje Vigen (Sjöström) que não apanhava uma pequena depressão cinéfila, ou cinética. sim, uma depressãozinha derivada da concentração de movimento sem um único som. às vezes o cinema mudo é gritantemente mudo, de tal maneira que a sua capacidade de linguagem universal pendura-nos o coração num estendal à chuva, com duas molas ferrugentas mas fortes. 
fui ver o Fièvre (Louis Delluc). não gostei. apetece-me mesmo dizer: odiei. odiei voltar àquela imagem que guardei de mim própria à janela, à espera que "o pai voltasse da tal viagem". Fièvre tem a metáfora e o impressionismo dessa espera: a vida portuária é uma espera infinita (tal como os desenhos que fazia para ele, quais barquinhos a chegarem ao porto). e apercebo-me agora de como sou susceptível ao impressionismo, mesmo que ele seja interior. ou, antes, porque ele é interior. e se não for entrar em contradição dizendo isto, gostei tanto do Fièvre que o odeio, assim como odiei (talvez mais sossegadamente) Terje Vigen. fiquei com saudades do tempo em que esperava, do tempo em que a ilusão operava em mim de uma forma mágica.  


(não quero falar mais sobre este filme.)


Fièvre, Delluc (1921)


Terje Vigen, Sjöström (1917)

sábado, 6 de setembro de 2014

«Au commencement était le verbe. Non. Au commencement était l'émotion.»

no seu primeiro filme, They Live by Night, Nicholas Ray apresentou-nos o seu cinema como quem apresenta Adão e Eva no Génesis: “This boy and this girl were never properly introduced to the world we live in… to tell their story. They live by night.” no seu primeiro filme, Boy Meets Girl, Leos Carax parece buscar a mesma natureza bíblica de uma origem, mas, no início ‘não era o verbo, era a emoção’. e a emoção nasce na (e da) noite, nas (e das) trevas. algumas obras preambulares são filhas dessa escuridão maternal da sala de cinema, brilhando como luas primogénitas na primeira noite da terra.


(assinado: Livre Silogismo)