quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

porta


aguardo piamente a ruptura do silêncio que se instalou aqui. aqui, onde as paredes brancas parecem ampliar tragicamente o maldito silêncio.
a solidão das paredes brancas é degradante: nem um quadro, nem uma fotografia, nem um traço disforme da caneta na mão de uma criança. nada.
as coisas permanecem iguais a si mesmas. olho uma e duas vezes, em intervalos de segundos, e tudo se mantém estupidamente na sua existência imóvel.

respiro o aroma perfumado que uma vela acesa oferece, e penso:

porque é que carrego este quarto dentro de mim?
ninguém abre a porta cujo ranger é a mágica quebra do silêncio.

(onde estou?)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

primeiros sintomas do dia


6:55h da manhã. manhã? pronto, manhã em trabalho de parto.
movimentos empedernidos do corpo, dor de cabeça que grita "não são horas para a realidade".
vestir calças, vestir camisola, lápis preto nos olhos, calçar botas, envergar casaco e mala ao ombro, para parecer gente.
chávena quente a aquecer as mãos: capuccino.

rua quase deserta, calçada húmida, passos arrastados, olhos semicerrados.
ainda durmo.
aula. entrar. sentar. abrir caderno. tirar a tampa da caneta.
mecânica deliciosa.

a manhã é a altura do dia que corresponde a uma anestesia geral, em que estou protegida pelo sentimento de que "nada pode acontecer de mal", como se de um período extraordinário se tratasse. os anjinhos do sono permanecem a meu lado, como uma prótese do sonho.
não acordo até ao tabefe do "bom dia".

a manhã é um lugar estranho.