entre Alexandre Nevsky, na composição musical de Sergei Prokofiev, uma
conversa acerca de música e cinema, um tributo a Nino Rota, pelo Quinteto de
Richard Galliano, e leituras picadas sobre Orson Welles, este 25 de abril foi
de uma liberdade sem limites: para os ouvidos, para o espírito, para a mente. a
certa altura, no andamento das páginas do livro de Orson Welles, num capítulo
que fixa textos seus, lê-se «Não há arte domesticada» – e tudo faz sentido de
repente. experimentei, de modo particular, essa liberdade quando o Quinteto de
Richard Galliano se configurou numa espécie humana de Aristogatos,
interpretando Nino Rota como quem sobe aos telhados para dar ao luar um sentido
renovado. o clarinetista não conseguia conter os seus tiques de pernas (com um
gesto idêntico ao do cão a “sujar” as rodas dos carros), dizendo nesses tiques, implicitamente, “sou
tão feliz por tocar clarinete”... e todos os outros consumavam a alegria em
bloco, que é, aliás, característica própria da música de Rota. mas também houve melancolia,
porque os telhados hoje estão molhados e não há luar. estes Aristogatos, com toda
a sua desfaçatez vadia, trouxeram a lua para dentro de uma sala, e o mar para
o interior de um acordeão.
«Eu escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens.» Rimbaud
sábado, 25 de abril de 2015
quinta-feira, 2 de abril de 2015
Manoel (1908-2015)
disse Michel Piccoli, em 2007: «[Manoel de Oliveira] é um grande farsante. E tem uma elegância, uma sabedoria de viver que é muito secreta. Ele nunca fala dele próprio. Gosta de contar histórias.» lendo isto, nada me ocorre de mais elegante, secreto e farsante do que o vermelho desta(s) rosa(s) do Vale Abraão. que fantasia tão sagrada e profana nesta cor. que morte tão imaginária, a de Manoel de Oliveira, entre o profano dia das mentiras e a sagrada Sexta-feira da Paixão de Cristo. caminhará ele agora nesse Mistério, como fazia com José Régio, descodificando plano a plano A Regra do Jogo de Renoir? dá-nos um sorriso, conjecturar.
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