quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

a História Mais Bela do Mundo


corria atrás da história mais bela do mundo. ela corria mais depressa. olhava para trás e fazia aquele ar perverso, com um trejeito na boca : “não me apanhas”. qual criança a brincar à apanhada, era o diabo da história mais bela do mundo, que gozava comigo como se goza com um velhote que já não tem agilidade para acompanhar os malabarismos dos mais novos. senti-me terrivelmente velha. gritava o seu extenso nome, como se lesse um tratado de posse: "História Mais Bela do Mundo, não fujas de mim, dá uma oportunidade à minha humilde escrita, torna-a mais nobre com a tua beleza. vieste para mim." - ela continuava a correr. e agora ria. ria muito. tanto que doía. acordei com a dor causada pela gargalhada da história mais bela do mundo.

enquanto ela viver no meu sonho, sei que não vai a lado nenhum. tranquei a porta do sonho à chave. do lado de fora. (e um segundo antes de acordar)



*A História Mais Bela do Mundo é  o título de um conto de  Rudyard Kipling.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

invitation to dance


na valsa do nosso diálogo, não nos pisamos, não trocamos os passos, não saímos do andamento. nascemos para falar um com o outro, como uma melodia escrita para dançar. pois dancemos juntos. 

(foi para isso que viemos ao mundo.)


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

stop


ligo o rádio e giro o botão das frequências num gesto aleatório, à espera de encontrar um silêncio fortuito a raiar no meio do turbilhão de sons que se forma pela passagem de umas para as outras. procuro-o como quem quer ver os espaços negros entre os fotogramas de uma película de cinema, como se abdicasse da persistência retiniana para segurar um intervalo preto no olho. preciso de encontrar esse silêncio, assim, a separar-se da esquizofrenia ruidosa. o contraste. um silêncio que, de tão abrupto, envergonhe quem o ouse quebrar. sentir que o tempo parou, só para eu encher novamente os pulmões.


domingo, 3 de fevereiro de 2013

Renoir, je t'aime


estou à superfície das ideias, a tentar arrumar as lombadas por ordem temática. há temas que pesam mais do que outros, e ideias mais antigas do que outras. entre o peso e a idade de ambos, procuro organizar tudo em função de um critério equilibrado entre a leveza e a juventude. assim, de cada vez que escolho pensar, por exemplo, em realismo cinematográfico, tema pesado, tiro da prateleira a frescura de uma ideia chamada Renoir