terça-feira, 20 de setembro de 2011

chá-vena



às vezes é isto mesmo: sou eu e a chávena. a fiel chávena que me beija os lábios cansados e verte o líquido que escorre até ao hipocentro das minhas divagações sísmicas.


às vezes é isto mesmo. e eu gosto assim.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

vestir/despir




a linguagem é a minha roupa. se me falta a palavra sinto-me nua.

hoje vesti saia. não era muito curta, porque não gosto de poupar no tecido do verbo; não era muito comprida, porque não gosto que tape demasiado a comunicação directa. não era justa porque não gosto que ela denuncie a forma dos meus pensamentos; não era transparente, porque não gosto que revele os meus segredos.

toda a linguagem pode ser a bandeira ou a máscara de uma ideia. é preciso usá-la com moderação. é este o conselho que te deixo: veste a roupa adequada; não escondas muito a alma, mas também não a ofereças de bandeja. (o que vale para o vestir também vale para o despir: devagar, se faz favor, e não completamente. deixa ao menos a roupa interior, que é como quem diz, a palavra-chave do teu coração. não dês o código: deixa que o descubram).


resgarda-te na linguagem: ela encarrega-se de te ditar aos outros.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

os lindos olhos do Tejo



da minha varanda vejo Lisboa. vejo Lisboa porque vejo o Tejo, o olho azul da cidade que pisca para mim num convite à vida. cada manhã é mais leve ao meu espírito porque sou apanhada nesse piscar de olhos que demora o tempo de um café curto. bom dia é o que digo à chavena vazia; um sorriso é o gesto que devolvo ao azul que me enfeitiça. pensará a vizinha do lado, uma senhora com alguma idade, que tenho estranhos rituais logo pela manhã. "cada um com as suas..." já dizia o outro.


e o outro dizia bem.