segunda-feira, 17 de agosto de 2009

open the door and turn off the light


bati à porta. silêncio. posso entrar? silêncio. entrei com a autorização do silêncio. sentei-me perto. um pouco mais perto. mais perto ainda e abracei-te... em silêncio. do abraço brotou uma lágrima, da lágrima um beijo salgado, do beijo o desejo físico. apagaste a luz. mergulhámos na escuridão. tudo está consumado. fecho a porta. levo um sorriso nos lábios. sou luz, és luz. quebrei o silêncio e a porta está aberta.



faça favor de entrar sem pedir.


terça-feira, 11 de agosto de 2009

why not?


há dias acabei de ler um ensaio de Nietzsche que me foi completamente visceral - A Origem da Tragédia - uma exposição teórica daquelas que são as verdadeiras raízes da tragédia. basicamente, e não querendo pregar uma valente seca a ninguém, tenho a dizer que Nietzsche concebe a tragédia como originária de dois instintos: o apolíneo e o dionisíaco. a saber, Apolo e Diónisos, duas divindades da cultura helenística, formam, num amplexo, a força que concebe a tragédia ática. com efeito, a «alma apolínea», que se traduz no poder de individuação, em contraste com a «alma dionisíaca», que eleva a Vontade universal, ou seja, que concebe a imiscuação do homem na melodia do Universo, estão devidamente doseadas nesta força concepcional, mas... a embriagez dionisíaca, pela sua própria natureza, consegue ultrapassar a ingenuidade apolínea. SÍNTESE: foi do fabuloso coro dionisíaco que a cultura bebeu até ao atingir do mundo onírico e orgiástico da embriaguez: «(...) é especialmente por efeito da música que o espectador da tragédia se sente invadido pelo pressentimento seguro de uma alegria suprema (...) de maneira que ele crê ouvir a voz mais secreta das coisas que, do fundo do abismo, lhe fala inteligentemente». existe tanto mais que podia expôr, mas eu não sei escrever como Nietzsche e apenas queria cativar as atenções para uma obra que pode ser interessante de se passar os olhos, um pouco da alma e também dos neurónios.

agora é a parte em que vocês dizem "vai cortar os pulsos", mas eu estou com uma grandessíssima bebedeira divina:


"Ave Diónisos, deus do Vinho"!!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

alone is the last place I wanted to be


um dia contei a alguém o meu maior medo: a solidão. advém daqui a eterna pergunta de como definir solidão. no fundo, é como a saudade ou o amor, em que ficamos sempre frustrados depois de áureos suores dos esforços para construir definições perfeitas, mas inatingíveis. não vou, de modo algum, tentar definir solidão porque é demasiado doloroso para mim a própria tentativa. fico-me pelo simples"pairar" sobre a palavra figurativa desse estado que me faz construir mentalmente a imagem de um sofá apoiado no vazio, onde o ar escasseia e uma chuva quase imperceptível tenta molhar esse sofá para que ele, com o peso da água, deixe a sua suspensão no vazio e caia numa superfície precisa, nem que seja apenas em respeito à lei da gravidade. nesse sofá sentam-se, isoladamente e um de cada vez, todos aqueles que precisam de uma mão, mas que a não encontram; os que precisam de uma palavra, e a não recebem; os que precisam de um novo chão, porque o que pisam é demasiado pedregoso. eu não quero sentar-me nunca nesse sofá, prefiro antes uma cadeira dura e rodeada de tantas outras que não dêm lugar ao vazio. esta é a dança das cadeiras, mas em nenhuma delas se senta alguém de nome Solidão, nem mesmo aquela a quem Fernando Pessoa chama de sua mulher...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

coeur


é tão bom começar. o início é o momento em que somos tomados de um espírito leve e auspicioso. não há ainda compromissos sobre o que se vai escrever, não há definições que perturbem o fluir natural e desordenado das ideias. somos livres para tecer as nossas próprias asas e felizes por podermos expressar as palavras do coração. somos crianças, enfim.

que palavras moram no meu? não tenho dedos que cheguem para contar, mas todos os dias tenho duas mãos cheias delas à espera de quem as veja. cada mão tem cinco dedos e eu acho que cinco mais cinco são dez, portanto, são dez as palavras que aqui deixo, vindas directamente do coração: sonho, vermelho, correio, viagem, desejo, simetria, ar, música, embriaguez, saia. reparem como a conjugação destas palavras pode moldar-se a diversas interpretações. pois bem, eu sei a minha, dou-vos liberdade para a vossa. agora vou ouvir The Doors, e recomendo The End, para começar em grande a partir de um fim...