quinta-feira, 3 de setembro de 2009

hora do conto


ela, sentada no colo, via as suas pernas curtas caírem suspensas sem tocar o chão, e os chinelos que lhe cobriam os pés, também eles pequenos, pendiam nos dedinhos nus, como um relógio de cucu numa sala antiga e silenciosa. assim se deixava ficar, escutando uma história. porque escutar uma história é não ter os pés no chão, é ser-se pequenino. ouvir uma história é ser humilde e aceitá-la como é, recebê-la como se fosse o mundo inteiro em algumas palavras. a história de hoje não será a de amanhã, nem a de amanhã será melhor que a de hoje, e, no entanto, eu quero ser como ela. quero o meu colo contador de histórias, quero ser pequenina sempre. a preguiça de crescer é o meu maior pecado, mas eu creio que as crianças não são pecadoras.

était une fois une petite fille qui aimait à rêver... c'est moi même.

4 comentários:

  1. Fantastico, identifico-me com as tuas palavras em certas frases que escreves, parece que vejo um retrato meu, escrito no blogue de uma amiga (muito especial :) ) minha. Mas afinal só quer crescer quem não tem sonhos, ambições, desejos... esses crescem, e desvanece-lhes o espirito, espirito esse que só poucos conseguem conservar, inocente, sonhador... o espirito de uma criança... que não quer crescer, não quer perder o espirito sonhador... isto é uma interpretação introspectiva um bocado à pressão, mas é o que penso tirar em jeito de conclusão..
    Beijo inês, adoro a tua escrita :)

    Ton ami de vilamoura, Eduardo :)

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  2. Encantei-me com a amável e doce profundidade destas palavras, tal como contigo, "moça"!
    Gosto muito de ti! Beijinho

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  3. "...) ouvir uma história é ser humilde e aceitá-la como é, recebê-la como se fosse o mundo inteiro em algumas palavras."

    Ah, Inês. Eu sei como é furtar do universo das palavras uma frase assim, uma idéia facilmente sentida e que entretanto poucos, e com dificuldade, são capazes de reconhecer.

    Em alguns momentos me bate uma "Eureka" literária. Isso causa uma ótima sensação - senão à escritora, pelo menos causa ao leitor.

    Um forte abraço em você.
    Cuide-se.

    Guilherme - www.vomitonovento.blogspot.com

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