quarta-feira, 19 de maio de 2010

est-ce ainsi que les hommes vivent


Tu e eu não fizemos de nós mesmos.
Haverá tempo para tudo dizias
e ao longo deste ano (para dar uma noção de duração),
fizemos de didascálias numa obra sem personagens.
Fomos o verão em forma de melão num quadro de feira,
os enfeites de carnaval no funeral do papa,
a cadeira eléctrica do pai natal,
a pedinte à entrada do metro,
a sorte com o seu penteado retro.

Como todos os negócios com direito a um espaço comercial,
o nosso afecto ocupava o tempo de antena da primavera,
os bancos de cinema King, o lugar estratégico das estrelas,
o vazio da web e o mal estar das massas.
O nosso amor fazia concorrência aos gelados
e outros reguladores naturais do metabolismo.
Como a noite era branca e prudente.
Como Paris ficou tão longe, de repente.
Rima e soa barato.
Mas a literatura tem destas coisas.
Disse-o Bataille no livro sobre «a literatura e o mal».
Garanto e cito, como sempre, do original.



Golgona Anghel



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