roçamos na vida uns dos outros como o roçagar do vestido de uma dama do século XVIII. é um ruf ruf constante, mas quase imperceptível, monótono. ela entra no grande salão onde está a corte inteira, "olá" aqui, "olá" ali, ruf ruf aqui ruf ruf ali... não olha a quem dirige as palavras mecânicas e distraídas, roça-as no ouvido, também ele acomodado ao hábito (e por isso desatento), do receptor, que sente uma leve comichão pela natureza sintética do tecido das palavras ligeiras.
assim se fazem as relações: do ruf ruf superficial do vestuário que não nos permite o toque de pele. mais propriamente, do ruf ruf que traja as almas abandonadas.
no século XVIII era assim. alguma coisa mudou?
(vivemos tão apertados nos nossos corpetes)
(vivemos tão apertados nos nossos corpetes)