quinta-feira, 18 de agosto de 2011

ruf ruf



roçamos na vida uns dos outros como o roçagar do vestido de uma dama do século XVIII. é um ruf ruf constante, mas quase imperceptível, monótono. ela entra no grande salão onde está a corte inteira, "olá" aqui, "olá" ali, ruf ruf aqui ruf ruf ali... não olha a quem dirige as palavras mecânicas e distraídas, roça-as no ouvido, também ele acomodado ao hábito (e por isso desatento), do receptor, que sente uma leve comichão pela natureza sintética do tecido das palavras ligeiras.

assim se fazem as relações: do ruf ruf superficial do vestuário que não nos permite o toque de pele. mais propriamente, do ruf ruf que traja as almas abandonadas.



no século XVIII era assim. alguma coisa mudou?
(vivemos tão apertados nos nossos corpetes)

Sem comentários:

Enviar um comentário