a mão do sonho percorria o seu corpo, como se conferisse a forma da matéria sedosa; a mão real pendia da cama, como sintoma da entrega total ao estado letárgico. a mão do sonho era meiga, feliz no toque e portadora de um sentimento que se expressava na ponta dos dedos; a mão real tinha pequenos espasmos de prazer, durante o sono. a mão do sonho encontrara o seu abrigo; a mão real contraiu, agarrando-se veemente ao lençol. a mão do sonho transpusera a fronteira. essa.
«Eu escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens.» Rimbaud
quinta-feira, 26 de julho de 2012
segunda-feira, 16 de julho de 2012
os primeiros
naquele tempo em que as existências ainda não povoavam a terra. naquele tempo em que o eco reinava. naquele tempo em que o tudo era nada. naquele tempo da combustão do vazio. naquele tempo que chamava outro, o próximo. naquele tempo, surgiram as nossas peles. nasceu a comunicação. 1+1=2
domingo, 1 de julho de 2012
fim de tarde
o nascimento da noite desenha-se aos olhos que se entregam à contemplação. é sábio esse lápis que faz das trevas uma imagem iluminada. o horizonte vai adquirindo um sfumato intenso e gradual, à medida da declinação do sol cansado. as nuvens perdem o seu aspeto fofo, para assumirem a forma de uma linha reta do fumo de um cigarro científico. a linha que emana do meu cigarro é sentimental, é uma serpente fantasma que se mistura com o ar, perdendo-se na brisa deste fim de tarde. é belo o anoitecer, e cheio de luz, uma luz interior que afasta as trevas. sou alimentada dessa luz. acabei a minha tela; ela guarda em si o tempo: era dia, agora é noite. do silêncio da minha casa observo a janela em frente, que anuncia o acender automático de uma lâmpada. é tão mais sublime o movimento natural das coisas. essa lâmpada, não pude eu desenhar o seu acender; a velocidade do tempo ganhou à minha destreza de o captar numa composição pictórica.
a natureza demora-se. é uma mulher.
lá está ela, a Lua, recortada por mim. luz entre as trevas.
Subscrever:
Mensagens (Atom)