domingo, 1 de julho de 2012

fim de tarde

o nascimento da noite desenha-se aos olhos que se entregam à contemplação. é sábio esse lápis que faz das trevas uma imagem iluminada. o horizonte vai adquirindo um sfumato intenso e gradual, à medida da declinação do sol cansado. as nuvens perdem o seu aspeto fofo, para assumirem a forma de uma linha reta do fumo de um cigarro científico. a linha que emana do meu cigarro é sentimental, é uma serpente fantasma que se mistura com o ar, perdendo-se na brisa deste fim de tarde. é belo o anoitecer, e cheio de luz, uma luz interior que afasta as trevas. sou alimentada dessa luz. acabei a minha tela; ela guarda em si o tempo: era dia, agora é noite. do silêncio da minha casa observo a janela em frente, que anuncia o acender automático de uma lâmpada. é tão mais sublime o movimento natural das coisas. essa lâmpada, não pude eu  desenhar o seu acender; a velocidade do tempo ganhou à minha destreza de o captar numa composição pictórica.
a natureza demora-se. é uma mulher.
lá está ela, a Lua, recortada por mim. luz entre as trevas.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário