enterro a mão na areia, até à profunda camada em que ela reserva a água. penso na fome da superfície, que devora a espuma das ondas, assim que elas se apartam para retomar o seu movimento natural. somos tão parecidos com a areia, famintos de pele, reservadores de sentimentos. há humidade dentro de nós. somos grutas com estalactites de desejo, submundos de uma superfície normalizada, como a areia lisa depois da onda. olho para o céu e sinto uma espécie de trindade do ser: o infinito, o corpo, e o coração, esse que toco, húmido e moldável, através da mão enterrada na areia. com a cabeça nas alturas e uma mão nas profundezas, encontro o ponto sísmico das memórias do meu tacto.
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