sábado, 29 de setembro de 2012

Poema


Tú eliges el lugar de la herida
en donde hablamos nuestro silencio.
Tú haces de mi vida
esta ceremonia demasiado pura.



Pizarnik


 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

máquina inteligente


ei-la sentada no intervalo do que gostaria de sentir e do que sente. um mal-estar por não saber algemar as emoções ruins, uma falha na máquina geradora das lágrimas (que só deveria ser acionada em caso de emergência). não é uma máquina inteligente. por isso, ela baloiça - como que a pedir ao vento para secar as emoções estranhas.
caiu uma folha seca da árvore. será o outono?
 

sábado, 8 de setembro de 2012

telhados


abandono a leitura do livro. fecho-o com a lentidão de quem ainda vigia a compreensão exata da última frase. o sol desmaia sobre o rio, e eu, sobre os telhados de Lisboa repouso o olhar, como se esse olhar fosse um corpo fatigado, que se estende ao comprido numa cama de telhas. o tempo escreveu mais uma preciosa página na minha vida, um dia que termina assim, comigo a olhar para o laranja velho dos telhados. sinto-me um postal daqueles que abundam nas mal-amanhadas montras das lojas de souvenirs. envio-me para um endereço incógnito, esperando o toque de umas mãos que abram o envelope e o tomem ansiosamente para ler a mensagem. o postal não leva nada escrito, é o silêncio de uma imagem onde figuro eu a repousar o olhar sobre os telhados de Lisboa. a verdadeira fotografia está, contudo, na minha íris, que apenas é apanhada de perfil.  sou feliz. guardo a imagem do meu descanso na memória de outra imagem. penso em retomar a leitura do livro. sim, é o melhor que faço.
(está um gato no telhado.)
 
 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.

Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.



Sophia de Mello Breyner Andresen

(The Big Parade, King Vidor)