abandono a leitura do livro. fecho-o com a lentidão de quem
ainda vigia a compreensão exata da última frase. o sol desmaia sobre o rio, e
eu, sobre os telhados de Lisboa repouso o olhar, como se esse olhar fosse um
corpo fatigado, que se estende ao comprido numa cama de telhas. o tempo
escreveu mais uma preciosa página na minha vida, um dia que termina assim, comigo a olhar
para o laranja velho dos telhados. sinto-me um postal daqueles que abundam nas mal-amanhadas
montras das lojas de souvenirs. envio-me
para um endereço incógnito, esperando o toque de umas mãos que abram o envelope e o
tomem ansiosamente para ler a mensagem. o postal não leva nada escrito, é o silêncio de uma
imagem onde figuro eu a repousar o olhar
sobre os telhados de Lisboa. a verdadeira fotografia está, contudo, na
minha íris, que apenas é apanhada de perfil.
sou feliz. guardo a imagem do meu descanso na memória de outra imagem. penso
em retomar a leitura do livro. sim, é o melhor que faço.
(está um gato no telhado.)
[os silêncios, a poderosa pontuação da palavra, a exclamação, a interrogação, um ponto onde uma virgula repousa... e prossegue imagem, e prossegue leitura,
ResponderEliminardas leituras de quem como quem lê um silêncio, também o sente carne viva da palavra!...]
um imenso abraço,
Leonardo B.