era uma vez uma mão que queria
trabalhar, uma cabeça que queria pensar em coisas mais concretas e um corpo
entorpecido por uma dor sem centro. não se podia dizer que doía um dedo, o
nariz, o peito ou o pé esquerdo. aliás, não havia esquerda nem direita nesse
corpo. a política era externa. doía, pronto. um dia a mão que queria trabalhar
disse para a outra mão: - dá-me aí esse caderno e uma caneta. a outra mão deu-lhe
então, sem perguntar para quê, ambos os objetos. a mão que pediu, com a ajuda
da cabeça (que divagava, como já era hábito, em pensamentos pouco concretos), começou a escrever
esta autobiografia do momento. e ficou-se por aqui.
a dor sem centro ainda é apenas
isso. chamam-lhe tristeza, os sábios. eu chamo desemprego.
(Whisper of the heart, Yoshifumi Kondô)
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