quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

era uma vez uma dor sem centro

era uma vez uma mão que queria trabalhar, uma cabeça que queria pensar em coisas mais concretas e um corpo entorpecido por uma dor sem centro. não se podia dizer que doía um dedo, o nariz, o peito ou o pé esquerdo. aliás, não havia esquerda nem direita nesse corpo. a política era externa. doía, pronto. um dia a mão que queria trabalhar disse para a outra mão: - dá-me aí esse caderno e uma caneta. a outra mão deu-lhe então, sem perguntar para quê, ambos os objetos. a mão que pediu, com a ajuda da cabeça (que divagava, como já era hábito, em pensamentos pouco concretos), começou a escrever esta autobiografia do momento. e ficou-se por aqui.
a dor sem centro ainda é apenas isso. chamam-lhe tristeza, os sábios. eu chamo desemprego.


(Whisper of the heart, Yoshifumi Kondô)

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