desde o Terje Vigen (Sjöström) que não apanhava uma pequena depressão cinéfila, ou cinética. sim, uma depressãozinha derivada da concentração de movimento sem um único som. às vezes o cinema mudo é gritantemente mudo, de tal maneira que a sua capacidade de linguagem universal pendura-nos o coração num estendal à chuva, com duas molas ferrugentas mas fortes.
fui ver o Fièvre (Louis Delluc). não gostei. apetece-me mesmo dizer: odiei. odiei voltar àquela imagem que guardei de mim própria à janela, à espera que "o pai voltasse da tal viagem". Fièvre tem a metáfora e o impressionismo dessa espera: a vida portuária é uma espera infinita (tal como os desenhos que fazia para ele, quais barquinhos a chegarem ao porto). e apercebo-me agora de como sou susceptível ao impressionismo, mesmo que ele seja interior. ou, antes, porque ele é interior. e se não for entrar em contradição dizendo isto, gostei tanto do Fièvre que o odeio, assim como odiei (talvez mais sossegadamente) Terje Vigen. fiquei com saudades do tempo em que esperava, do tempo em que a ilusão operava em mim de uma forma mágica.
(não quero falar mais sobre este filme.)
Fièvre, Delluc (1921)
Terje Vigen, Sjöström (1917)
Acaba-se odiando a «espera pelo que não vem» (e tudo o que a imita) quando, finalmente, num acesso de cosnciência ou mesmo instinto, percebemos que ela não cabe na realidade do tempo cíclico, pois que se lhe opõe, sendo que a realidade do tempo cíclico, de quem a progressão é parente, é a própria força, ou a força máxima, da realidade.
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