o acorde final de uma canção que
é, em si mesma, um dilatado acorde final, imprime um aforismo no peito. é assim
como uma lasca de vidro que corta um pedacinho de pele sobre a zona do coração,
e fica-se lá com o acorde, fica-se lá com a canção inteira, a dizer-nos um aforismo
barato, desses que a alma turística gosta de coleccionar. mas a gente já não
pode viajar mais, e estaciona numa terra-de-ninguém. das paredes dessa
terra-de-ninguém, salta o acorde final de uma canção que é, em si mesma, um
dilatado acorde final. sangra o aforismo: é piroso, mas corta tanto como uma
lasca de vidro. voltamos a fazer as malas.
Intermezzo (1939)
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