aconchego um Malteser
entre o pico da concavidade do céu
da boca (perdão – do céu palatino)
e da língua mole.
para não acelerar o processo
de erosão enzimática,
suspendo o movimento
do maxilar.
pausa.
um crepúsculo de
chocolate derrete como
a cera das velas fundidas
numa superfície plana, converte-se num
manto de sabor, e desse quase
nada procede o ruído
da morte esfumada da bolacha
de dentro – sulcada que
nem um queijo suíço –,
comovida
pelo regozijo desta
boca triste (será o ruído
do pavio a dissipar-se?).
quero mais um Malteser
e outro
e outro...
o pacote inteiro.
porque, já dizia Márai,
as velas ardem até ao fim.
e eu não sei escrever
poesia. por isso, escuto o som
dos Maltesers a derreter
no palato.
The Golden Rush (1925), Charles Chaplin
Fantástico. É exactamente isto. Sem tirar nem pôr.
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