sábado, 8 de setembro de 2012

telhados


abandono a leitura do livro. fecho-o com a lentidão de quem ainda vigia a compreensão exata da última frase. o sol desmaia sobre o rio, e eu, sobre os telhados de Lisboa repouso o olhar, como se esse olhar fosse um corpo fatigado, que se estende ao comprido numa cama de telhas. o tempo escreveu mais uma preciosa página na minha vida, um dia que termina assim, comigo a olhar para o laranja velho dos telhados. sinto-me um postal daqueles que abundam nas mal-amanhadas montras das lojas de souvenirs. envio-me para um endereço incógnito, esperando o toque de umas mãos que abram o envelope e o tomem ansiosamente para ler a mensagem. o postal não leva nada escrito, é o silêncio de uma imagem onde figuro eu a repousar o olhar sobre os telhados de Lisboa. a verdadeira fotografia está, contudo, na minha íris, que apenas é apanhada de perfil.  sou feliz. guardo a imagem do meu descanso na memória de outra imagem. penso em retomar a leitura do livro. sim, é o melhor que faço.
(está um gato no telhado.)
 
 

1 comentário:

  1. [os silêncios, a poderosa pontuação da palavra, a exclamação, a interrogação, um ponto onde uma virgula repousa... e prossegue imagem, e prossegue leitura,

    das leituras de quem como quem lê um silêncio, também o sente carne viva da palavra!...]

    um imenso abraço,

    Leonardo B.

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