tento adormecer, coberta pelo calor do manto da escuridão,
uma flanela macia que se encosta ao ombro e roça na cara, para provar que todo
o corpo está resguardado. durmo em posição fetal, mas hoje não durmo. um fio de
luz invade o desnível entre as portadas velhas da janela, cuja madeira tomou a irregularidade
do tempo e do uso. é a luz dos candeeiros da rua, que observam a monotonia e o descanso das
pedras da calçada, humedecidas pelo orvalho. penso no gato que se esconde atrás do
caixote do lixo, no frio do abandono. ouço os meus pensamentos, sem os
verbalizar. conto os nomes das personagens dos filmes que vi hoje: Clive,
Barbara, Lambert, Armstrong, Vera, Blore, Owen… e do fluxo aleatório de pensamentos, passo para os sentidos. saboreio os morangos que vou
comer amanhã. neste exercício final para adormecer, sinto os teus lábios a
roubarem-me o mais doce dos morangos. acredito que já estou a dormir. posso abandonar
a escrita.
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