«- Leva-me ao cinema, não leva? – murmurou quase para si própria.
Eikichi e eu, conduzidos parte
do caminho por um homem de Koshuya de aparência duvidosa, fomos a uma estalagem
que, segundo se dizia, pertencia a um ex-prefeito. Tomámos banho juntos e
almoçámos peixe fresco do mar.
Quando ele partiu, entreguei-lhe
uns trocos:
- Compra algumas flores para as exéquias de amanhã.
Tinha explicado que deveria
regressar a Tóquio no barco da manhã. Estava com falta de dinheiro, embora lhes
tivesse dito que devia regressar à escola.
- Bem, de qualquer maneira,
vê-lo-emos este Inverno – afirmou a mulher mais velha. – Iremos buscá-lo ao
barco – prosseguiu. – Avise-nos, quando vier. Ficará connosco (...).
Quando os outros deixaram o
quarto, pedi a Chiyoko e a Yuriko que viessem comigo ao cinema. Chiyoko,
inclinada, pálida e cansada, pressionava com as mãos o abdómen.
Yuriko olhou fixamente para o
chão.
A pequena dançarina estava lá em
baixo a brincar com as crianças da estalagem. Assim que me viu descer,
escapou-se e pôs-se a bajular a mulher mais velha para que a deixasse ir ao
cinema. Regressou, distante e abalada.
(...)
Ao deixar a estalagem, a dançarina acariciava, sentada à entrada, um
cão. Não consegui aproximar-me dela, e ela parecia não ter força para erguer os
olhos.
Fui ao cinema sozinho. Uma mulher lia o diálogo com uma pequena
lanterna eléctrica. Abandonei o lugar, quase imediatamente, e regressei à minha
estalagem. Deixei-me ficar, por muito tempo, sentado, olhando para fora, com os
cotovelos no peitoral da janela. A cidade estava escura. Julguei ouvir um
tambor à distância, e sem razão especial dei comigo a chorar.»
Yasunari Kawabata, A Dançarina de Izu
(Hijosen no onna, Yasujiro Ozu)
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