há alturas na vida (e começar
dizendo “há alturas na vida”, eu sei, é uma banalidade) em que precisamos de nos libertar do sagrado. o sagrado
não é uma cruz ao peito ou uma missa de Bach. podia ser. o sagrado é uma
memória. uma memória que colocamos em causa, tal como os crentes, nos momentos
de maior sofrimento, colocam em dúvida a existência de deus. olho para uma
camisa antes de a depositar no tambor da máquina de lavar, e pergunto “estavas mesmo no meu
corpo naquele dia?”. espero ansiosamente um “não” que me conforte e devolva outra fé; encontro-me em genuflexão diante de um altar imaginário. mas as minhas preces são
ignoradas: o “sim” insinua-se na cor da camisa e oferece um bilhete de volta a essa memória.
(memórias sagradas são puras
ficções.)
An Affair to Remember, Leo McCarey
[sagrado, sagrada - que exactidão?
ResponderEliminarpara uns a subtil terminologia, a correcção técnica, um murmúrio;
para uns outros a diurna e incorrecta tradução
a frequência cardíaca da palavra,
o próprio coração?...]
um imenso abraço,
bL