“a música não é apenas um
conjunto de notas, é também o silêncio que criamos entre as notas.”
Samir
Joubran
[é um baleia de madeira, chama-se
oud e navega num mar de notas e
silêncios criados pelo Trio Joubran. ]
partilhar a maravilha é a minha maneira de ser generosa. não a endereço a
ninguém em particular; quem se maravilhar também, é esse o destinatário da
partilha. ontem fui ao concerto do Trio Joubran, na Gulbenkian. Le Trio Joubran
são três irmãos – Samir, Wissam e Adnan - palestinianos, radicados há 5 anos em
Paris. aos irmãos, que tocam oud, junta-se Yousef Hbeisch, na percussão. um conjunto
animado, com a bondade transparente no sorriso e uma relação expressiva com os
instrumentos. relação, aliás, que dura há quatro gerações de construção de
ouds, as baleias de madeira que entraram, assim, numa noite, para o meu
imaginário. Samir, o mais velho, depois da primeira música, tomou o microfone e
dirigiu-se à audiência em inglês. entre outras coisas, disse que há uma
diferença entre “palestinian music” e “music from Palestine”. com esse
apontamento na ideia, pelo menos no início do concerto, tentei produzir
pensamento sobre esta noção, procurando fazer um exercício de análise cultural...
mas o deleite não acompanha raciocínios, devia saber isso. não estava
preparada para gostar tanto. não foi uma questão de expectativa/surpresa, foi somente entregar a alma à maravilha como quem a vende ao diabo. não
estava preparada para uma sonoridade que, ao mesmo tempo que carrega uma melodia
artesanal, íntima, amplia o espaço, dá-nos a conhecer a linguagem simples das
estrelas, lá no céu. o céu, aliás, é
título de duas das músicas do álbum: O
céu de Córdova (Sama Cordoba) e O céu de Swollow (Sama sounounou). são céus das suas Viagens (AsFâr) – nome do
álbum – que se tornam “chão” de uma experiência que vou guardar como ‘o dia em
que vi baleias de madeira’. não, não será só essa a memória, tenho a certeza.
https://www.youtube.com/watch?v=UshD9FQin24
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