tenho uma carta escrita nos dedos. uma carta que permanece silenciosa, que se dita nos gestos. uma carta que não sabe para onde vai. uma carta que não sabe como se escreveu. uma carta que, na busca do destinatário, percorre os meus lábios, naquele trejeito de indecisão. envio: sim ou não? enquanto a resolução não cai sobre mim, tenho uma carta escrita. uma carta escrita nas pontas dos dedos.
é para ti. vem receber um gesto da minha mão. vem ouvir uma frase da carta que tenho escrita na pele.
[Não resisto a revolver as minhas pastas de 2003... escrevia, então:
ResponderEliminar(...)«Perguntarás estas palavras, que parecem tão óbvias, tão distantes que confundem, que magoam, por crer sem querer, que deveriam ser as mesmas que te diriam onde se encontra a porta, a janela, o gesto quase sem reflexo que procuras no espelho já imóvel no tempo: Que olharás agora enquanto contemplas o ar triste dos teus olhos? Que olharás por agora, de carta na mão de remetente tão certo como o teu coração, uma vez mais esse maldito coração, que salta, que brinca, que rodopia num ar invisível, que se molha no cabelo, o cabelo que gostarias de acariciar todas a noites do sempre, os lábios que nunca tocarás nem que seja para silenciar a noite, os dias que correm tão devagar, tão ofegantes e ansiosos, as faces macias, o pescoço esguio de contorno perfeito, o sorriso que não se toca, que manchará todas as manhãs que conhecerás nesta vida, que estará sempre perto enquanto aquela carta se não desfizer com o tempo. Que olharás tu neste espelho? O sorriso que nunca te será devolvido? O sorriso devolvido por um estranho remetente desconhecido?»
Um imenso abraço, Inês
Lb