sábado, 9 de junho de 2012

tu


antes de existires para mim, já te pronunciava na segunda pessoa do singular. eras sujeito da frase e verbo intransitivo. Tu existes: o teu nascimento gramatical para mim.
Eu existo,
Tu existes,
Ele existe… não. só se “ele” fosse a soma de nós os dois, uma espécie de reflexo de duas existências. Eu e Tu - assim aprendi a conjugar os verbos, num regime egoísta. talvez.
antes de existires para mim, já eu te predicava nos textos da escola. se escrevia “chove”, logo me sentia perdida pela ausência do sujeito na frase. porquê que não podia escrever “tu choves”?  onde estavas quando chovia? esperavas por mim numa rua qualquer, mesmo desconhecendo a minha existência gramatical? eu pensava que sim,  então aprendi a construir uma oração com todos os seus constituintes semânticos no lugar certo.  Tu estavas na frase, e por isso ela fazia sentido.

antes de existires para mim, a minha palavra escrita já te denunciava. era um ditado do coração.
antes do corpo, era o verbo.




2 comentários:

  1. Fantástico. Cada palavra, uma pétala de rosa. Tão leve, tão preciosa.

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