quinta-feira, 24 de maio de 2012

fica


há um pássaro dentro de mim. às vezes sou o  céu, às vezes sou a árvore, outras o ninho ou então a gaiola. ser-se imenso, ser-se suporte, ser-se conforto ou ser-se prisão são quatro estados. se sou o céu, tudo é espaço que cede espaço a mais espaço, tudo é liberdade; sou respiração colorida. voa voa, que as tuas asas não esgotem a vontade de azul… se sou a árvore, procuro oferecer o ramo mais seguro, o ponto onde a vista é mais bonita, onde se pode fazer um ninho; sou madeira generosa. vem, ocupa este braço que te dou, constrói aqui a tua casa. se sou o ninho, quero aconchegar as asas fatigadas do voo, quero ser a cama aberta que se consagra à missão plena do descanso; sou as mãos côncavas de uma criança. quando chegares, só tens de te deixar levar no embalo do teu próprio cansaço. quantos céus voaste hoje? se sou gaiola… não sou digna de ter um pássaro dentro de mim. não posso prender o movimento poético de umas asas. não posso.
BlueBird, quero que voes sempre tomando-me como teu infinito, que te apoies no ramo que te dá a vista mais privilegiada e que te renoves sempre do cansaço do voo no ninho que te fiz. BlueBird, fica, sem sentires as grades de uma gaiola. onde estás?

2 comentários:

  1. Os "melhores" pássaros azuis são amplos e contraditórios :) Beijinho meu

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  2. [E enquanto for anónima, à minha voz e ao corpo que a reveste, enquanto forem tantas as asas quantas as que me pedem um ausentar, essas presenças momentâneas, estarei, serei, abro ao frágil céu o voo, abro a janela e deixo entrar pela casa adentro a luz dum dia mais no mundo, a frágil e fugaz manhã onde me detenho hesitante, às palavras que não concebo para descrever o pedaço de mundo, que ainda que não sendo o meu, o meu lugar todo, não chegam nem sobram para condensar o horizonte do mundo que só conheceu um arquitecto, aquele que me designou por seu voo.]

    Onde me sei,
    nesse imenso abraço,

    Lb

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